segunda-feira, 30 de março de 2009

Retalhos da Vida

Dentro do carro a minha mente vagueia solta.
Fico imaginando a vida das pessoas por quem vou passando...

O Pai que leva o filho pela mão e entrega na porta da escola com o cabelo eximiamente penteado e cheirando a colônia Espanhola; O Senhor que sempre me rasga um sorriso quando me entrega o jornal matutino enquando aguardo que o sinal abra; As pessoas a caminho do trabalho, da escola, das compras. Fico imaginando em que é que trabalhará o gordo sentado no carro ao lado do meu (hmmm.. tem ar de economista... não de Padeiro...) e vou rindo das barbaridades que me aasolam à mente.
Outras vezes comovo-me de imaginar as vidas tristes que as pessoas têm... Perco-me a pensar que o homenzinho que toca acordião ali ao pé das amoreiras vestido de fato e gravata provavelmente perdeu o emprego e por já ter uma certa idade não arranja outro e tem filhos para criar (não resisto a abrir o vidro e dar-lhe umas moedas). Imagino a Tia do Porshe ao meu lado com um ar de loira descolorada na sua vidinha fútil. Imagino as casas das pessoas com vista para o mar em Cascais e que ficam horas no trânsito diário para entrar em lisboa, para que os filhos cresçam fora da cidade...

Hoje enquanto me perdia nos meu devaneios ouvi duas musicas que retratam bem aquilo em que vinha a pensar.

Retalhos
Alcione



A ginda da porta estandarte O pingo de pingar do Santo O homem que morre de infarte A reza que quebra o quebrando O grito de gol na garganta O heroi na televisão A falta de fome na janta O gesto acressivo da mão

São coisas do Mundo Retalhos da Vida
São coisas de qualquer lugar
Mas se eu fico mudo
Este mundo imundo
É capaz tentar me tentar mudar

A espera da moça do Mange A mulher que faz um cochiço O Crime lá do Bang Bang No Cine da boca do lixo O Velho mendido da praça A Nega que nunca nego O triste palhaço sem graça No Circo que já desabou O Anúncio do novo cigarro O trânsito louco varrido A moça que corre de carro E tenta sonhar colorido O triste retrato da morte Estampa o Jornal O Dia Ao lado do riso da sorte De quem ganhou na Loteria.

Águas de março
(Tom Jobim)



É pau, é pedra, é o fim do caminhoÉ um resto de toco, é um pouco sozinhoÉ um caco de vidro, é a vida, é o solÉ a noite, é a morte, é um laço, é o anzolÉ peroba no campo, é o nó da madeiraCaingá candeia, é o matita-pereiraÉ madeira de vento, tombo da ribanceiraÉ o mistério profundo, é o queira ou não queiraÉ o vento ventando, é o fim da ladeiraÉ a viga, é o vão, festa da cumeeiraÉ a chuva chovendo, é conversa ribeiraDas águas de março, é o fim da canseiraÉ o pé, é o chão, é a marcha estradeiraPassarinho na mão, pedra de atiradeiraÉ uma ave no céu, é uma ave no chãoÉ um regato, é uma fonte, é um pedaço de pãoÉ o fundo do poço, é o fim do caminhoNo rosto um desgosto, é um pouco sozinhoÉ um estepe, é um prego, é uma conta, é um contoÉ um pingo pingando, é uma conta, é um pontoÉ um peixe, é um gesto, é uma prata brilhandoÉ a luz da manha, é o tijolo chegandoÉ a lenha, é o dia, é o fim da picadaÉ a garrafa de cana, o estilhaço na estradaÉ o projeto da casa, é o corpo na camaÉ o carro enguiçado, é a lama, é a lamaÉ um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rãÉ um resto de mato na luz da manhãSão as águas de março fechando o verãoÉ a promessa de vida no teu coraçãoÉ uma cobra, é um pau, é João, é JoséÉ um espinho na mão, é um corte no péSão as águas de março fechando o verãoÉ a promessa de vida no teu coraçãoÉ pau, é pedra, é o fim do caminhoÉ um resto de toco, é um pouco sozinhoÉ um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

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